mardi 31 mai 2011

N'KASSA COBRA - 1 -

                          Texto para uma curta banda desenhada intitulada N’KASSA COBRA.
                                                   Mas, primeiro vamos rezar aqui um bocadinho.


Pagina 1


Caro Irmão,



Nunca te levei a essa praiazinha não muito longe de Lisboa, onde havia o restaurante de que mais gostava na linha Lisboa-Cascais. Alguns filhos da puta (alguns vindos de Bruxelas, outros de Oeiras) deram cabo dele. Teria preferido que fosse uma magnífica onda vindo do mar, já que este lugar tinha os pés na água. Não foi bem assim e o Bar Aleixo já não existe ! Ainda tenho nas narinas o cheiro do peixe assado que o homem ia buscar à noite  ao mar com a sua barca. Daqui observavas a imensidão e a boa gente que vinha descansar, tomar banhos de sol, pescar o sonhar com lugares longínquos. Deram cabo de tudo isso!
Podes imaginar um sítio nosso noutro lugar assim meu Caro ? Só precisávamos de uma mesa, algumas cadeiras para os amigos, uns caracóis e umas cervejas frescas, e logo os sonhos se deixavam ir ao sabor da corrente.

Pára de chorar Irmão. Pára de chorar pôrra ! Já não és um menino ! Tens toda a razão, isto que era um lugar fora de série ! Fui-me embora, bem longe. Não estou feliz, não. Mas isso já não importa. 

Pagina 2.

Olha, procurei no Google maps a tua casa. Não tive sorte pá, não vi lá grande coisa, não te vi, nem a tua amada, mas vi umas cores cinzentas que deviam ser o telhado da tua casa. Que saudade meu! Quase ouvi o barulho duma manga madura a cair no zinco, BAM! Mas não vi os teus filhos saírem a correr da casa para procurar essa manga. Essa mangueira deve ser a maior que vi na minha vida. BAM! BAM! BAM! Que festa quando caem as ultimas mangas do ano ! Todos as querem. Mesmo aquelas que estão sempre verdes.

Noticias da minha tabanca ? “AMÉRICA ZERO” meu, isto é o titulo do filme. Não tenho nada para te contar. Aqui está tudo limpo e organizado. Brilhante ? Nem por isso. Não insistas ‘ta bom? Fica a saber simplesmente que por aqui não se come galinha à cafriela nem um bom prato de bianda, arroz com mafé!

N'KASSA COBRA - 2 -

Pagina 3

Ontem tinha uma Terra. Essa Terra dava-me um clic ! “ Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau voyage,
Ou comme cestuy-là qui conquit la toison,
Et puis est retourné, plein d'usage et raison,
Vivre entre ses parents le reste de son âge !”: Eu não tenho os remorsos de Joachim Du Bellay. Quero lá saber de voltar para essa Terra que já morreu em mim. Olha que isso não faz de mim um renegado, un vaurien. Guardei lá no fundo um espaço muito, muito pessoal. E tal como o teu, o meu cheira a vaca do mato !   Cocó de vaca, meu ! Nos fomos no mato ainda djubi. Mas não fui expulsado não, nunca. Eu fui-me embora, nem fugi.
Sei da história dos jovens da tua Terra, que fogem aos montes, que ficam doìdos, que vão para a guerra para ganhar dinheiro e prestígio. Li histórias bem feias até de raparigas que se permitiam todas as transgressões. Matam, matam à toa. Todos apanhados na rede como cães vadios, todos vítimas da História. Nasceram no sítio e na data errada.

Pagina 4

Irmão, que bom quando estamos juntos. Que bom quando brincámos juntos, mesmo que fosse no fundo dum autocarro vazio que vai para Aljustrel . Gosto tanto das histórias que me contas, gosto do teu ponto de vista. Acertas, sempre. Não bebes álcool (e com razão), mas mesmo isso não faz de ti um inimigo. Creio que nascemos juntos com as mesmas palavras na boca: “A única possibilidade que temos de nos safar daqui é arrancar amanha muito cedo. Às 5h30 já se começa a ver alguma coisa.” 

Tenho lá na zona de São Tomé e Príncipe um cunhado. Anda sempre de mota, vai e vem, vem e vai, do porto para alguns armazéns e dos armazéns para o porto. Chama-se Vadisney. Gosto dele, gosto andar de mota com ele e atravessar os bairros todos de São-Tomé. O Vadisney diz sempre: “Vamos  p’ra luta!”. Vamos p’ra luta, sim Senhor. Mesmo que seja por muito pouco.
Caro amigo, já andaste de mota ? Bolas, isto que é!

N'KASSA COBRA - 3 -

Pagina 5

Há dois anos atrás fomos de mota, Feliciana e eu, da Capital para os Angolares, mais ao Sul da Ilha. A chuva apanhou-nos quando já estávamos de caminho, por volta das dez da manhã quando chegávamos a Santana. Fizemos uma paragem curta mais à frente, numa loja de Ribeira Afonso, para tomar algo e espremer a nossa roupa. Foi o tempo necessário para Feliciana se aperceber que o seu pai tinha por ali muitas amantes e alguns filhos, ou seja,  que ela tinha por ai alguns irmãos e irmãs. 

A chuva quando cai em São-Tomé é amigável e quente para quem vai de passagem como nós. Para quem trabalhou anos nas roças a chuva tinha outro sabor, assim que o conta um ex-serviçal cabo-verdiano nativo de São Nicolau no livro “O fim do caminho longe”, de Augusto Nascimento: “(...) então quando vim para aqui, olha, chuva dia e noite...dia e noite, mesmo a gente levantava mesmo com chuva, está a ir para o mato com chuva, está a vir com chuva, e, naquele tempo era assim, agora não (...) a gente vai para o mato dentro da chuva, chuva só, era chuva, era chuva, era chuva”.

Eu lembro-me que naquele dia tinha uma diarreia do caraças ! Não foi por causa da chuva. No dia anterior tinha comido um polvo talvez mal cozido apimentado à maneira. Mas o polvo era mesmo bom e foi-me oferecido por um mulher de Neves, lá do lado ocidental da Ilha.

 Pagina 6

Irmão, isto são só umas 6 páginas e não posso escrever assim tanto. Pronto. Quando é que queres arrancar com o negócio das motas ? Claro que temos que pôr algum dinheirinho de lado mas podes crer, o mercado já foi pesquisado ! E só tapar os buracos nas estradas !
As  motas davam jeito para realizar alguns projectos porque: Tenho saudade do caminho de Cossé, tenho saudade da cara da mãe de Nelita que nunca vi, tenho saudade da minha amada que nunca mais encontrei, tenho saudade dum amigo meu isolado do outro lado do mundo. Tenho saudade, sempre e sempre,  e isso mata-me aos bocadinhos. 
O nevoeiro envolve a mais os Bretões e os Portugueses. E descansa que nem te contei a história do Brandan, aquele irlandês que viajou no alto mar com uma barca de pedra à procura das suas certidões.
Irmão, cuida de ti e dos teus. Havemos de nos encontrar de novo num Bar Aleixo qualquer.

                                   Fim dessa carta / historia. Então, vamos rezar mais um bocadinho.




                                                                                Para o meu amigo e irmão, Aruna Corbel Embaló.


lundi 30 mai 2011

La voiture fichue de Pierre - O carro estragado do Pierre


Il était une fois :

Pierre par avion s’en était allé
Loin là-bas au pays
Revoir sa belle aimée
Une ronchonneuse québequoise
Petite sous la toise

À Lisbonne sous un ciel pur
Un idiot pas fort en Math’
À bousillé la voiture
De mon ami Pierre Pratt

Sans doute un jeune malfrat,
Ou un groupe de vieux
Sur le chemin de Fátima
Aura aperçu la belle auto bleue


Lui aura donné   un coup
Puis deux ou trois
De la tête, du pied, du genou
Pour en faire du pâté de foies.

La voiture est partie en fumée
De s’être pris une telle branlée
Lors de la mise en bière
Le mécano a questionné Pierre

Sans carter, sans pistons
Sans portes, sans vilebrequin
Sans pneus et sans  boulons
Vot’auto s’est elle pris un engin ?

J’ai consolé Pierre
En lui payant une mousse
Au bar du lézard vert
Qui pète et qui glousse


Transport de têtes – Transporte de cabeças


île de la Sonde - Ilha da Sonda


Une île-volcan des petites îles de la Sonde qui parsèment le chemin entre Denpasar et Dili.
Uma pequena ilha-vulcão das Ilhas da Sonda que, um dia que passava por lá sentado na barriga dum avião a caminho de Díli, lançou-me uma olhada.

Timbre fiscal - Selo fiscal


Ilha de Santiago, 1910

Esboços para um projecto de banda desenhada sobre uma revolta que aconteceu na ìlha de Santiago em Cabo Verde.

Croquis pour projet de récit sur une révolte qui eut lieu en 1910 sur l’île de Santiago au Cap-Vert.



  Praia au XVI siècle - Praia no século XVI


dimanche 29 mai 2011

L'indienne, le Cow-Boille et le Poulé

L'indienne est une Shamane

Le Cow-Boille est un coyote solitaire

Le Poulé a perdu son livret de famille.

La Cantina del Polpo, l'ancre de Pierre Pratt.


Dantes, o Pierre Pratt e eu éramos bons clientes dessa cantina onde nunca houve Polvo no menu. O Pierre escolhia sempre chocos com tinta. Montes dos seus desenhos são feitos dessa tinta. Ele guardava religiosamente numa pequena garrafa essa tinta bem pretinha e pastosa. Eu, preferia o bacalhau cozido com batatas e um toquezinho de azeite. Não se faz desenhos com o bacalhau e, naquela altura, não me apetecia comunicar com construções. Agora sim mas, infelizmente, já não vivo em Portugal.

René, ce petit coquin!

 




                    Petites gouaches peintes pour mon fiston René. Gouaches for my son René, 2007.

jeudi 26 mai 2011

Sous la Lune, la Pintade.

René est aussi inspiré qu’un Rufino Tamayo!


mercredi 25 mai 2011