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Ontem tinha uma Terra. Essa Terra dava-me um clic ! “ Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau voyage,
Ou comme cestuy-là qui conquit la toison,
Et puis est retourné, plein d'usage et raison,
Vivre entre ses parents le reste de son âge !”: Eu não tenho os remorsos de Joachim Du Bellay. Quero lá saber de voltar para essa Terra que já morreu em mim. Olha que isso não faz de mim um renegado, un vaurien. Guardei lá no fundo um espaço muito, muito pessoal. E tal como o teu, o meu cheira a vaca do mato ! Cocó de vaca, meu ! Nos fomos no mato ainda djubi. Mas não fui expulsado não, nunca. Eu fui-me embora, nem fugi.
Sei da história dos jovens da tua Terra, que fogem aos montes, que ficam doìdos, que vão para a guerra para ganhar dinheiro e prestígio. Li histórias bem feias até de raparigas que se permitiam todas as transgressões. Matam, matam à toa. Todos apanhados na rede como cães vadios, todos vítimas da História. Nasceram no sítio e na data errada.
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Irmão, que bom quando estamos juntos. Que bom quando brincámos juntos, mesmo que fosse no fundo dum autocarro vazio que vai para Aljustrel . Gosto tanto das histórias que me contas, gosto do teu ponto de vista. Acertas, sempre. Não bebes álcool (e com razão), mas mesmo isso não faz de ti um inimigo. Creio que nascemos juntos com as mesmas palavras na boca: “A única possibilidade que temos de nos safar daqui é arrancar amanha muito cedo. Às 5h30 já se começa a ver alguma coisa.”
Tenho lá na zona de São Tomé e Príncipe um cunhado. Anda sempre de mota, vai e vem, vem e vai, do porto para alguns armazéns e dos armazéns para o porto. Chama-se Vadisney. Gosto dele, gosto andar de mota com ele e atravessar os bairros todos de São-Tomé. O Vadisney diz sempre: “Vamos p’ra luta!”. Vamos p’ra luta, sim Senhor. Mesmo que seja por muito pouco.
Caro amigo, já andaste de mota ? Bolas, isto que é!
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