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Há dois anos atrás fomos de mota, Feliciana e eu, da Capital para os Angolares, mais ao Sul da Ilha. A chuva apanhou-nos quando já estávamos de caminho, por volta das dez da manhã quando chegávamos a Santana. Fizemos uma paragem curta mais à frente, numa loja de Ribeira Afonso, para tomar algo e espremer a nossa roupa. Foi o tempo necessário para Feliciana se aperceber que o seu pai tinha por ali muitas amantes e alguns filhos, ou seja, que ela tinha por ai alguns irmãos e irmãs.
A chuva quando cai em São-Tomé é amigável e quente para quem vai de passagem como nós. Para quem trabalhou anos nas roças a chuva tinha outro sabor, assim que o conta um ex-serviçal cabo-verdiano nativo de São Nicolau no livro “O fim do caminho longe”, de Augusto Nascimento: “(...) então quando vim para aqui, olha, chuva dia e noite...dia e noite, mesmo a gente levantava mesmo com chuva, está a ir para o mato com chuva, está a vir com chuva, e, naquele tempo era assim, agora não (...) a gente vai para o mato dentro da chuva, chuva só, era chuva, era chuva, era chuva”.
Eu lembro-me que naquele dia tinha uma diarreia do caraças ! Não foi por causa da chuva. No dia anterior tinha comido um polvo talvez mal cozido apimentado à maneira. Mas o polvo era mesmo bom e foi-me oferecido por um mulher de Neves, lá do lado ocidental da Ilha.
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Irmão, isto são só umas 6 páginas e não posso escrever assim tanto. Pronto. Quando é que queres arrancar com o negócio das motas ? Claro que temos que pôr algum dinheirinho de lado mas podes crer, o mercado já foi pesquisado ! E só tapar os buracos nas estradas !
As motas davam jeito para realizar alguns projectos porque: Tenho saudade do caminho de Cossé, tenho saudade da cara da mãe de Nelita que nunca vi, tenho saudade da minha amada que nunca mais encontrei, tenho saudade dum amigo meu isolado do outro lado do mundo. Tenho saudade, sempre e sempre, e isso mata-me aos bocadinhos.
O nevoeiro envolve a mais os Bretões e os Portugueses. E descansa que nem te contei a história do Brandan, aquele irlandês que viajou no alto mar com uma barca de pedra à procura das suas certidões.
O nevoeiro envolve a mais os Bretões e os Portugueses. E descansa que nem te contei a história do Brandan, aquele irlandês que viajou no alto mar com uma barca de pedra à procura das suas certidões.
Irmão, cuida de ti e dos teus. Havemos de nos encontrar de novo num Bar Aleixo qualquer.
Fim dessa carta / historia. Então, vamos rezar mais um bocadinho.
Para o meu amigo e irmão, Aruna Corbel Embaló.
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